28 de dezembro de 2017

Icó mantém a tradição das lapinhas

Com muita dedicação, as instalações se modernizaram, ganharam novas peças e motivos diversos.

Foto: Honório Barbosa

Icó. A tradição de montar presépios e decorar casas com motivos natalinos ainda se mantém no Interior do Ceará, embora em número reduzido. Nesta cidade, no Centro-Sul do Ceará, moradores se dedicam ao trabalho e as instalações se modernizaram, ganharam novas peças e motivos diversos. Um exemplo vem do sobrado do empresário Luiz Gonzaga Teixeira, na Avenida Ilídio Sampaio, principal corredor histórico, onde se localiza a maior quantidade de casarões, erguidos por escravos, no estilo neoclássico dos séculos XVIII e XIX. A fachada recebeu cordões de luzes e o interior transformou-se em uma ampla instalação, com vários ambientes, seguindo a tradição de Natal.

O imóvel passou a ser atração dos moradores que seguem para o Largo do Théberge e têm parada obrigatória para conferir a beleza e harmonia das montagens e peças. O casal Luiz Gonzaga e Albaniza Teixeira prepara com carinho, a cada fim de ano, o presépio e outras decorações. São pelo menos 15 dias de trabalho com ajuda de operários.

Na sala, há uma enorme árvore de Natal. Ao lado, em um console com espelho, imagens da Sagrada Família, Jesus, Maria e José. O móvel é rústico, assim como uma imensa mesa de madeira maciça, confeccionada por um artesão de Orós, disposta bem no centro. Para alegria e surpresa das crianças, há carrossel, roda gigante e outros brinquedos em miniaturas de um parque de diversões.

Para as crianças

"Fizemos tudo isso para as crianças", disse Luiz Gonzaga, empresário e aposentado do serviço público federal. "Queremos proporcionar momentos de alegria e lazer", afirmou. A dona da casa Albaniza Teixeira completa: "O nosso esforço é viver o clima de Natal, partilhar alegria, promover a união e a paz entre as famílias, o amor de Cristo entre os homens".

Sob uma escada dupla de madeira, que preserva o estilo da arquitetura original, está instalado o presépio: as imagens do Menino Jesus, na manjedoura; os pais, Maria e José; alguns animais e a presença dos reis magos, Baltazar, Gaspar e Belchior, como se estivessem se aproximando, trazendo o incenso, a mirra e o ouro para presentear o Menino Deus.

O empresário Ariosvaldo Muniz, mais conhecido por Vavá, acompanhado da esposa, Elisdebora, mostrou-se encantado com a decoração e as instalações natalinas deste ano. "Está perfeita e dá uma imensa alegria permanecer nesta casa histórica", disse. O advogado Wgerlles Maia também enfatizou a beleza da montagem das peças em vários ambientes da casa.

'Viver o Natal'



Quase em frente ao casarão do empresário Luiz Gonzaga Teixeira, está a casa da aposentada Maria Nilde Peixoto Ferreira, 83. Na sala, também foi montado um presépio com centenas de peças. O trabalho é feito pela filha, Malta Séfora Ferreira. "Queremos viver o Natal, os seus símbolos, relembrar que Jesus nasceu humilde para salvar a humanidade", disse a matriarca.

Na instalação, está uma quartinha, que funciona para alimentar uma fonte de água, simbolizando a vida. Centenas de outras peças e luzes compõem a lapinha. "São 12 dias de trabalho, mas não tenho ideia do custo porque já tenho a maioria das peças e só renovo", explicou Malta Ferreira.

Nessa época do ano, era comum a instalação de presépios em casas do Interior para simbolizar o nascimento do Menino Deus. Nas últimas décadas, os costumes mudaram no sertão e o Natal passou a ser mais um dia de festa comum. A tradição cristã, entretanto, se mantém viva nesta cidade graças ao esforço de dois irmãos que há mais de 50 anos montam uma enorme lapinha. A instalação é feita a cada ano na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizada nos fundos da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação, no sítio histórico.

A lapinha atrai moradores que diariamente visitam o conjunto de imagens. A atenção está voltada para a presença do Menino Jesus na manjedoura.

Religiosidade

Esta cidade apresenta forte religiosidade popular que atrai milhares de devotos. O presépio instalado na Capela do Socorro é uma mostra desse costume. Embora tenha começado pequeno, há mais de 50 anos, hoje reúne três mil peças, distribuídas num espaço de 30 metros quadrados.

A montagem do presépio foi uma iniciativa do então funcionário público federal Almério Silva, agente administrativo do antigo DNER (hoje DNIT), que faleceu em 1996, aos 72 anos.

"Era um homem de forte religiosidade, havia sido seminarista e sentiu a motivação em montar um presépio para homenagear o nascimento de Jesus Cristo", conta o comerciário e filho adotivo, Marciano Pereira Tavares. "Todos os anos, ele se dedicava a fazer a montagem, com gosto e devoção".

Marciano cresceu vendo a lapinha ser montada. Após a morte do pai adotivo, sentiu-se impulsionado a dar continuidade ao trabalho. "É uma tradição que não pode morrer", disse. Juntamente com o irmão, Márcio Tavares, manteve o costume. Os dois trabalham uma semana na montagem do presépio. "Vale a pena", disse. "É um trabalho que dá prazer".

Detalhes

O presépio funciona diariamente das 7 às 11 horas e das 17 às 22 horas, mas há dias em que fica aberto até a meia-noite. Atrai os católicos que retornam das novenas em louvor à Padroeira Nossa Senhora da Expectação e ao Senhor do Bonfim. O presépio reúne peças variadas. Além dos tradicionais personagens, indispensáveis, dos reis magos e da sagrada família, há camponeses, pastores e milhares de animais de gesso e madeira. Bichos de várias espécies. Réplicas de casarões antigos do Icó, em madeira, compõem o cenário, e dão um toque dos traços do urbanismo local à lapinha.

Representação de lagos, vegetação, pedras e areia formam a paisagem que remete à época do nascimento de Cristo, na antiga cidade de Belém, segundo a tradição cristã. Há um lago e um chafariz, que remove água no moinho e chama a atenção dos visitantes. O presépio do Icó é um local de adoração ao Menino Jesus. Jovens e idosos, param, olham, rezam, fazem preces, pedidos e agradecimentos. Outros contemplam, simplesmente, mas todos saem com o espírito repleto de paz. "É muito bonito, nos traz um sentimento de paz", disse a educadora Eleneuda Souza. "Venho todos os anos e fico admirando".

Fonte: Diário do Nordeste/ Honório Barbosa

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